Bem no meio da cidade grande, rodeado de imensos prédios, uma jovem menina de cabelos louros encaracolados morava numa casa antiga, em frente a um pequeno espaço verde, raro entre a tanto concreto.
Certo dia, quando corria entre as árvores, a menina viu uma pequena flor, ainda em botão. Ficou admirada ao ver aquela flor solitária crescer num lugar aonde mesmo o capim, erva tão resistente, muitas vezes ressecava, ficando somente a aridez do chão.
Mas que flor seria aquela que não se mostrava, escondendo-se atrás de folhagem tão verde? Intrigada a menina dos cachinhos dourados decidiu acompanhar o crescimento da flor, protegendo-a com alguns gravetos. Durante dias, entre suas brincadeiras, sempre arrumava tempo para regar, de carinho, tão delicada flor.
Quando será que poderei ver a flor tão radiante, pensou a menina pouco antes de recostar sua cabeça no travesseiro, fechar os olhos e dormir. Na manhã seguinte o Sol também acordou cedo. Aproveitando que teria o dia de folga, a menina resolveu ir cedinho respirar o ar puro que a natureza oferecia, pegou um pequeno balde com água e foi dar bom dia a sua nova amiga flor.
No caminho notou que uma borboleta a seguia, toda frondosa, em seus tons amarelo alaranjado. Dançando com a brisa, a borboleta acompanhava o ritmo entoado pela menina, nos passos alegres e saltitantes.
Olá borboleta – disse a menina – você quer me ajudar? Estou indo dar um pouco de água para minha amiga flor, está calor e ela deve estar com sede. Você pode dar um beijo nela como faz nas outras flores, quem sabe assim ela acorda.
Tão logo chegou a menina teve uma surpresa, tamanha foi sua alegria que os olhos chegaram a ficar molhados em lágrimas.
- Você cresceu. Como você é bonita.
Sábia a natureza, que em sua simplicidade das cores tingiu as pétalas da flor num branco intenso. Muitas pétalas em forma de gotas. Ao centro um amarelo esverdeado ou verde amarelado servia de apoio para as pétalas. O perfume era discreto, porém sempre presente.
A menina sentou-se na grama ao lado da flor, colocou um pouco de água na terra quase seca que a amparava e quase pode perceber a flor crescer. Sorrindo ela olhou para o céu e agradeceu em prece ao ver que o pouco que fez pôde servir de acalento a tão maravilhosa vida.
De agora em diante minha flor – disse a menina – você será para mim a purificação. Acompanharei os teus passos e farei deles os meus. Se fui capaz de fazer por você, tenho certeza que posso fazer muito mais.
A menina lutou, se sacrificou, mas conseguiu montar seu jardim. Começou com uma única flor e a alimentou com muito amor e carinho. Daí em diante foram surgindo outras flores, tantas que ela precisou de ajuda para rega-las. Assim ano após ano as flores cresciam e seguiam seu caminho.
O espaço também tornou-se pequeno e logo a menina, agora uma linda jovem, tratou de resolver o problema, montando um jardim ainda maior. Um espaço todo colorido num tom amarelo, qual ao Sol que abençoou a manhã do nascimento da flor; em laranja, como homenagem à linda borboleta que a acompanhou; em vermelho, representando o amor do momento. Cores quentes para uma calorosa recepção a todas as suas flores.
Ladeou seu espaço com bichos, seu chão em verde, seus muros em cor. Fez do amor a base do seu sonho. Fez do seu sonho a satisfação FUTURA. Esbarrou nos espinhos da rosas, carregou algumas pedras que estavam no caminho, mas aprendeu que até mesmo excremento pode virar adubo, se bem misturado a terra.
A jovem virou mulher, plantou sua própria flor e fez dela sua razão de viver, sem nunca esquecer seu jardim. Hoje nem tudo são flores, foi preciso plantar algumas árvores para fazer sombra nos dias quentes e, nos dias frios, as proteger dos ventos fortes. Dentre as árvores um formoso carvalho, imperando garboso do alto de sua copa.
A mulher já não tem mais os cachos dourados, no entanto mantém a meiguice da criança que um dia sonhou ser grande. Hoje sua grandeza é tanta que até mesmo o Sol se ofusca em sua luz, nem mesmo as estrelas tem tanto brilho. Em sua mão tem o toque de uma fada, que realiza os desejos de tantas flores. A pequena menina que um dia admirou-se com a vida, hoje ensina caminhos.
A primeira flor passou o seu tempo no jardim. Foi luz na escuridão, foi o sorriso num momento de tristeza, foi o apoio quando estava no chão, foi a palavra amiga num momento de silêncio, foi o silêncio na hora da agitação. A primeira flor foi o amor, o desabafo, foi a razão, o coração. A flor foi o motivo, a inspiração, relembrada nas mãos do artista por sua beleza e no coração de todos pela sua PUREZA.
As flores tornaram-se tantas que não há palavras suficientes para comentar, pois quando uma se vai, outras nascem em seu lugar. Porque sempre haverá vida, de forma alegre e divertida, no Jardim das Margaridas.
Rogério Dias
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